1 de jan. de 2018

SOB A CLARIDADE DO CÉU E IMENSIDÃO DO MAR

"A brisa leve e fria do oceano batia sobre a pele lisa de meu rosto naquela manhã. Nada mais era, naquele momento, para mim, mais grandioso e divino do que a imensidão do mar com suas águas tão azuis quanto o próprio céu, que estendem-se até onde os olhos não podem alcançar. Percebi, neste instante, como um feixe de luz que pousa sobre meus olhos tomados muito tempo pela escuridão, que no horizonte o mar despia-se de tudo que até agora fora chamado humano.  As embarcações que há muito navegaram por estes lados pela primeira vez em direção a este continente, os navios negreiros cheios de dor e sofrimento: nada disso fazia mais sentido. A própria humanidade pareceu-me isenta de um sentido, o “por que o Homem?” apoderou-se de mim de uma tal maneira como que se tudo que houvesse existido até então, exprimido num breve instante, fosse reduzido a mim e a imensidão do mar em minha frente.




Esta linha longínqua do horizonte do oceano une-se ao grandioso céu, tão difícil é distinguir onde começa um e termina outro, e sob ela a humanidade se exprime; sob a linha do horizonte a vida e a existência se apequena.

Este feixe de luz sobre a escuridão daquele momento foi-me extremamente sublime. O frio matinal já não fazia-se presente e o sol, agora tão grande aos meus olhos, surge devolvendo-me a sensação de ser, provocando-me, ainda mais uma vez, o prazer de estar.

E neste momento percebi que sou apenas uma luz oscilante, chamada Homem, que esforça-se em manter-se acesa sob a claridade do céu e a imensidão do mar, em tentativa desesperada de achar um lugar para chamar-lhe de meu, um lugar para dizer a todos “este lugar pertence ao Homem”. Um lugar que, talvez, quando tudo que existiu antes do próprio Homem extinguir-se de todo, provar-se-á inexistente, e sua busca, custeada pela miséria de semelhantes, mostrar-se-á tão insignificante quanto a própria razão do Homem.


Sob a luz do céu e imensidão do mar os objetivos, compartilhados pelo Homem, mostraram-se inexistentes, as buscas tornaram-se insignificantes, e os sacrifícios, em vão."

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