"A brisa leve e fria do
oceano batia sobre a pele lisa de meu rosto naquela manhã. Nada mais era,
naquele momento, para mim, mais grandioso e divino do que a imensidão do mar com
suas águas tão azuis quanto o próprio céu, que estendem-se até onde os olhos
não podem alcançar. Percebi, neste instante, como um feixe de luz que pousa sobre
meus olhos tomados muito tempo pela escuridão, que no horizonte o mar despia-se
de tudo que até agora fora chamado humano. As embarcações que há muito navegaram por
estes lados pela primeira vez em direção a este continente, os navios negreiros
cheios de dor e sofrimento: nada disso fazia mais sentido. A própria humanidade
pareceu-me isenta de um sentido, o “por que
o Homem?”
apoderou-se de mim de uma tal maneira como que se tudo que houvesse
existido até então, exprimido num breve instante, fosse reduzido a mim e a
imensidão do mar em minha frente.
Esta linha longínqua do
horizonte do oceano une-se ao grandioso céu, tão difícil é distinguir onde
começa um e termina outro, e sob ela a humanidade se exprime; sob a linha do
horizonte a vida e a existência se apequena.
Este feixe de luz sobre
a escuridão daquele momento foi-me extremamente sublime. O frio matinal já não
fazia-se presente e o sol, agora tão grande aos meus olhos, surge devolvendo-me a sensação de ser,
provocando-me, ainda mais uma vez, o prazer de estar.
E neste momento percebi que sou apenas uma luz oscilante, chamada Homem, que esforça-se em manter-se acesa
sob a claridade do céu e a imensidão do mar, em tentativa desesperada de achar
um lugar para chamar-lhe de meu, um
lugar para dizer a todos “este lugar pertence ao Homem”. Um lugar que, talvez, quando tudo que existiu antes do
próprio Homem extinguir-se de todo,
provar-se-á inexistente, e sua busca, custeada pela miséria de semelhantes, mostrar-se-á
tão insignificante quanto a própria razão do Homem.
Sob a luz do céu e imensidão do mar os objetivos, compartilhados pelo Homem, mostraram-se inexistentes, as
buscas tornaram-se insignificantes, e os sacrifícios, em vão."
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