28 de dez. de 2016

NIETZSCHE: Niilismo, Ideal Ascético e a Morte de Deus

ESTUDOS FILOSÓFICOS SOBRE NIETZSCHE
por Matheus Terra 



Friedrich Wilhelm Nietzsche (Alemanha 1844-1900), filósofo, filólogo, crítico cultural e poeta, foi o fundador de uma das filosofias mais influentes dos séculos XX e XXI. Autor dos livros Ecce Homo (publicado em 1908 após sua morte, pela sua irmã Elisabeth) e Além do Bem e do Mal (1886), dentre outros, que abalaram  a cultura do mundo ocidental, principalmente no que diz respeito a moral cristã e seus ideais presentes na sociedade, que até hoje influenciam  nosso modo de vida.
Sua filosofia é considerada, de fato, libertadora, pois rompe com a razão da moralidade cristã e abre horizontes para uma nova visão de mundo, livre de divindades supra-humanas, que para o filósofo e seus seguidores nasceram do homem para livrá-lo de sua insegurança e justificar o sofrimento da existência. Em de cada vida humana, cada destino, havia uma lacuna gigante, um abismo que soava sempre um “Em vão!”. O problema do homem não era “o sofrer em si”, mas sim “para que sofrer?”. Eis que os ideais ascéticos cobriram essa lacuna presente no destino de cada homem e os ofereceu segurança, porém fora contestada e derrubada através da desvalorização de seus próprios valores.  



NIILISMO E SUAS REPRESENTAÇÕES

O Niilismo é um termo designado a conceituar um modelo de pensamento baseado na derrocada de valores idealistas pré-estabelecidos pela humanidade. Presente em autores literários como "Os Irmãos Karamazov", de Fiódor M.
Dostoievsky, que fora considerada por Nietzsche como uma das melhores obras que ele mesmo já leu, aumentando sua área de influência, em maior quantidade em gerações pós-nietzschianas. Pode ser tomada como fenômeno de esfacelamento de ídolos, de valores morais que foram tomados como verdades únicas pelo homem ao longo da história, através da religião e seus fundadores. Nas palavras de Nietzsche, a decadência dos valores cristão no ocidente ocorre através do “Martelo dos Ìdolos”:ferramenta utilizada em sua filosofia para desconstruir conceitos.
 A desconstrução dos valores cristãos, bem como dogmas, paraíso cristão e vida após a morte, ou qualquer outro idealismo que priva o homem de sua vida na terra para garantir uma vida eterna e em melhores condições (sem sede, fome, doença, violência, dor), tal como a definição de céu e inferno, é o ponto de partida para o niilismo, em outras palavras, a moral cristã é o ponto de partida para o problema que caracteriza o niilismo, é nela que inicia a desvalorização de seus valores.
Para Nietzsche, quando uma metafísica é elevada ao seu nível extremo, a contestação dessa metafísica é uma consequência. Durante muitos anos o cristianismo foi considerado como verdade absoluta para explicar os fenômenos da natureza e para justificar aquilo que a mente humana, até então, fora incapaz de dar sentido. Toda a metafísica envolvida fora levada em seu maior nível de consideração para explicar fenômenos, que o próximo ponto é a auto supressão, ou seja, uma auto contestação desses valores tomados como unicamente verdadeiros, em termos nietzschianos: a desvalorização de seus próprios valores.


Há insegurança no Homem, medo, dor, sofrimento, que é causado pela ausência de significado para a existência, a busca pelo ideal ascético, a fim de guiar nossas vidas para uma possível recompensa, oferece sentido para a vida. Ideais nos servem de refúgio, lar, local seguro. Niilismo é a aceitação da vida ausente de ídolos.



“Se desconsiderarmos o ideal ascético, o homem, o animal homem, não teve até agora sentido algum. Sua existência sobre a terra não possuía finalidade; “para quê o homem?” – era uma pergunta sem resposta, faltava a vontade do homem na terra, por trás de cada grande destino humano, soava, como um refrão, um ainda maior “Em vão!”...” ( Friedrich Nietzsche, Genealogia da Moral)




Alguns dos tipos de niilismo retratam a forma com que o homem encara essa realidade após a desvalorização da moral. São eles:

·         Niilismo completo (volkommen nihilism): momento em que o homem, ao tomar consciência de que a todas as verdades absolutas estão passíveis de desvalorização, não permite se fixar em qualquer confiança. Seu grau de consciência é elevado, sendo considerado pelo autor como um filósofo do futuro, ou um indivíduo altivo par exellence. A aceitação de um ideal ascético para um niilista completo não possível, para ele “O homem” não existe, o que existe é apenas o animal homem, como todos os outros animais vivos que estão na terra passíveis da morte, sem um significado divino. Um niilista completo é aquele que não mais aprecia uma realidade fantasiosa, e não mais pode apreciar aquilo que gostaríamos de nos enganar.

·         Niilismo passivo: o abandono dos ideais ascéticos torna a vida um fardo pesado demais. Um niilista passivo é aquele que, mesmo tendo consciência da fragilidade da moral cristã, não a aceita em sua total amplitude, devido a falta de significado para a vida ele somente “se arrasta” por ela.

·         Niilista ativo: a tomada de consciência sobre continuar a se enganar  com quaisquer ídolos transforma-se em um furor selvagem, que é direcionado para tudo aquilo que passa a ser uma nova forma de redenção, para outras metafísicas.





O ideal serve para o homem como um impedimento para a liberdade, o abandono do mesmo representa um passo a mais para uma vida mais plena. Amar a vida como ela é, de fato, lutar por novas conquistas mas vendo o mundo como ele é, e aceitando-o.


“A minha fórmula para a grandeza no homem é amor fati: não querer nada além do que é, nem a frente de si, nem atrás de si, por toda a eternidade...Não apenas suportas aquilo que é necessário, muito menos dissimulá-lo – todo idealismo é falsidade diante daquilo que é necessário -, mas sim amá-lo.” (F. Nietzsche em Ecce Homo, editora L&PM, pág. 67-68).


A MORTE DE DEUS


Até o séc. XIX poucas pessoas foram capazes considerar a moral advinda do cristianismo para além do que ela era considerada dentre os “animais de rebanho”, ou seja, como a única verdade. Uma realidade fantasiosa foi a força motriz para o nascimento de uma nova visão de mundo, baseada no idealismo. O medo da morte e a necessidade de uma verdade justificadora da existência fora a chave para a imposição de poder.  A percepção de uma realidade paralela através de análises históricas e comportamentos sociais, levou ao filósofo a propor que a religião fora criada pelo homem, e acima e tudo, usada para exercer poder sobre as massas, com o intuito de gerar lucro, dominar territórios, obter poder pessoal e etc. usando como base a “salvação” e alívio do sofrimento terreno com preceitos metafísicos, exercendo influencia na humanidade através da  imagem de um representante de deus na terra, tais como são os líderes religiosos. Entretanto, como citado nos estudos acerca do niilismo, essa verdade fora tomada tão unicamente para explicar os fenômenos naturais e sobrenaturais que ela chegou a seu ponto de auto supressão, através da desvalorização de seus próprios valores: é uma consequência para qualquer metafísica quando elevada ao seu ponto máximo.

“Aquilo que antes se pensava verdadeiro, eterno e indelével, não passa de humano, demasiado humano.”

A frase “Morte de Deus”(citada em A Gaia ciência) pode causar espanto quando lida superficialmente, especialmente por aqueles que não procuram entender seu real significado. Esta sentença refere-se a uma genuína catástrofe espiritual, é um abalo profundo na vida do homem que se inicia justamente na decadência da religião como única forma de explicar os fenômenos da humanidade. A imagem de Deus para religiosos, significa uma suprema força espiritual, onipotente, onisciente, capaz de fazer milagres, etc. e é tomada como uma força supra-humana unicamente verdadeira, sua decadência é o que caracteriza a “Morte de Deus”. Todos nós somos culpados pela morte de deus e a supressão da moral cristã, pois elevamos essa verdade tomada como única à sua máxima amplitude, e a contestamos.

Friedrich Nietzsche influenciou gerações com sua filosofia. Em sua trajetória, poucas pessoas foram capazes de entender se legado, pois, como vários outros intelectuais e pessoas altivas capazes de enxergarem através dos olhos comuns, transpassaram a humanidade e escreveram para pessoas para além de seu tempo.



Deus está morto, e nós o matamos.”

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