ESTUDOS FILOSÓFICOS SOBRE NIETZSCHE
Friedrich
Wilhelm Nietzsche (Alemanha 1844-1900), filósofo, filólogo, crítico cultural e
poeta, foi o fundador de uma das filosofias mais influentes dos séculos XX e XXI.
Autor dos livros Ecce Homo (publicado em 1908 após sua
morte, pela sua irmã Elisabeth) e Além do
Bem e do Mal (1886), dentre outros, que abalaram a cultura do mundo ocidental, principalmente
no que diz respeito a moral cristã e seus ideais presentes na sociedade, que
até hoje influenciam nosso modo de vida.
Sua filosofia
é considerada, de fato, libertadora, pois rompe com a razão da moralidade cristã
e abre horizontes para uma nova visão de mundo, livre de divindades supra-humanas,
que para o filósofo e seus seguidores nasceram do homem para livrá-lo de sua
insegurança e justificar o sofrimento da existência. Em de cada vida humana,
cada destino, havia uma lacuna gigante, um abismo que soava sempre um “Em
vão!”. O problema do homem não era “o
sofrer em si”, mas sim “para que
sofrer?”. Eis que os ideais ascéticos cobriram essa lacuna presente no
destino de cada homem e os ofereceu segurança, porém fora contestada e
derrubada através da desvalorização de seus próprios valores.
NIILISMO E SUAS REPRESENTAÇÕES
O Niilismo é
um termo designado a conceituar um
modelo de pensamento baseado na derrocada de valores idealistas
pré-estabelecidos pela humanidade. Presente em autores literários como "Os Irmãos Karamazov", de Fiódor M.
Dostoievsky, que fora
considerada por Nietzsche como uma das melhores obras que ele mesmo já leu, aumentando sua área de influência, em maior quantidade em gerações
pós-nietzschianas. Pode ser tomada como fenômeno de esfacelamento de ídolos, de
valores morais que foram tomados como verdades únicas pelo homem ao longo da
história, através da religião e seus fundadores. Nas palavras de Nietzsche, a
decadência dos valores cristão no ocidente ocorre através do “Martelo dos Ìdolos”:ferramenta utilizada em sua filosofia para desconstruir conceitos.
A desconstrução dos valores cristãos, bem como
dogmas, paraíso cristão e vida após a morte, ou qualquer outro idealismo que
priva o homem de sua vida na terra para garantir uma vida eterna e em melhores
condições (sem sede, fome, doença, violência, dor), tal como a definição de céu
e inferno, é o ponto de partida para o niilismo, em outras palavras, a moral
cristã é o ponto de partida para o problema que caracteriza o niilismo, é nela
que inicia a desvalorização de seus valores.
Para
Nietzsche, quando uma metafísica é elevada ao seu nível extremo, a contestação
dessa metafísica é uma consequência. Durante muitos anos o cristianismo foi
considerado como verdade absoluta para explicar os fenômenos da natureza e para
justificar aquilo que a mente humana, até então, fora incapaz de dar sentido.
Toda a metafísica envolvida fora levada em seu maior nível de consideração para
explicar fenômenos, que o próximo ponto é a auto supressão, ou seja, uma auto
contestação desses valores tomados como unicamente verdadeiros, em termos
nietzschianos: a desvalorização de seus próprios valores.
Há
insegurança no Homem, medo, dor, sofrimento, que é causado pela ausência de
significado para a existência, a busca pelo ideal ascético, a fim de guiar
nossas vidas para uma possível recompensa, oferece sentido para a vida. Ideais
nos servem de refúgio, lar, local seguro. Niilismo é a aceitação da vida
ausente de ídolos.
“Se desconsiderarmos o ideal ascético,
o homem, o animal homem, não teve até
agora sentido algum. Sua existência sobre a terra não possuía finalidade; “para quê o homem?” – era uma pergunta
sem resposta, faltava a vontade do
homem na terra, por trás de cada grande destino humano, soava, como um refrão,
um ainda maior “Em vão!”...” (
Friedrich Nietzsche, Genealogia da Moral)
Alguns
dos tipos de niilismo retratam a forma com que o homem encara essa realidade
após a desvalorização da moral. São eles:
·
Niilismo
completo (volkommen nihilism):
momento em que o homem, ao tomar consciência de que a todas as verdades
absolutas estão passíveis de desvalorização, não permite se fixar em qualquer
confiança. Seu grau de consciência é elevado, sendo considerado pelo autor como
um filósofo do futuro, ou um indivíduo altivo par exellence. A aceitação de um ideal ascético para um niilista
completo não possível, para ele “O homem” não existe, o que existe é apenas o animal homem, como todos os outros
animais vivos que estão na terra passíveis da morte, sem um significado divino.
Um niilista completo é aquele que não mais aprecia uma realidade fantasiosa, e
não mais pode apreciar aquilo que gostaríamos de nos enganar.
·
Niilismo
passivo: o abandono dos ideais ascéticos torna a vida um fardo pesado demais.
Um niilista passivo é aquele que, mesmo tendo consciência da fragilidade da
moral cristã, não a aceita em sua total amplitude, devido a falta de
significado para a vida ele somente “se arrasta” por ela.
·
Niilista
ativo: a tomada de consciência sobre continuar a se enganar com quaisquer ídolos transforma-se em um
furor selvagem, que é direcionado para tudo aquilo que passa a ser uma nova
forma de redenção, para outras metafísicas.
O ideal serve para o homem como um
impedimento para a liberdade, o abandono do mesmo representa um passo a mais
para uma vida mais plena. Amar a vida como ela é, de fato, lutar por novas
conquistas mas vendo o mundo como ele é, e aceitando-o.
“A minha fórmula para a grandeza no
homem é amor fati: não querer nada além do que é, nem a frente de si,
nem atrás de si, por toda a eternidade...Não apenas suportas aquilo que é
necessário, muito menos dissimulá-lo – todo idealismo é falsidade diante
daquilo que é necessário -, mas sim amá-lo.”
(F. Nietzsche em Ecce Homo, editora L&PM, pág. 67-68).
A
MORTE DE DEUS
Até o séc. XIX poucas pessoas foram
capazes considerar a moral advinda do cristianismo para além do que ela era
considerada dentre os “animais de rebanho”, ou seja, como a única verdade. Uma
realidade fantasiosa foi a força motriz para o nascimento de uma nova visão de
mundo, baseada no idealismo. O medo da morte e a necessidade de uma verdade
justificadora da existência fora a chave para a imposição de poder. A percepção de uma realidade paralela através
de análises históricas e comportamentos sociais, levou ao filósofo a propor que
a religião fora criada pelo homem, e acima e tudo, usada para exercer poder
sobre as massas, com o intuito de gerar lucro, dominar territórios, obter poder
pessoal e etc. usando como base a “salvação”
e alívio do sofrimento terreno com preceitos metafísicos, exercendo
influencia na humanidade através da
imagem de um representante de deus na terra, tais como são os líderes
religiosos. Entretanto, como citado nos estudos acerca do niilismo, essa
verdade fora tomada tão unicamente para explicar os fenômenos naturais e
sobrenaturais que ela chegou a seu ponto de auto supressão, através da
desvalorização de seus próprios valores: é uma consequência para qualquer
metafísica quando elevada ao seu ponto máximo.
“Aquilo que antes se pensava verdadeiro,
eterno e indelével, não passa de humano,
demasiado humano.”
A frase “Morte de Deus”(citada em A
Gaia ciência) pode causar espanto quando lida superficialmente,
especialmente por aqueles que não procuram entender seu real significado. Esta
sentença refere-se a uma genuína catástrofe espiritual, é um abalo profundo na
vida do homem que se inicia justamente na decadência da religião como única
forma de explicar os fenômenos da humanidade. A imagem de Deus para religiosos,
significa uma suprema força espiritual, onipotente, onisciente, capaz de fazer
milagres, etc. e é tomada como uma força supra-humana unicamente verdadeira,
sua decadência é o que caracteriza a “Morte
de Deus”. Todos nós somos culpados pela morte de deus e a supressão da moral
cristã, pois elevamos essa verdade tomada como única à sua máxima amplitude, e a
contestamos.
Friedrich Nietzsche influenciou
gerações com sua filosofia. Em sua trajetória, poucas pessoas foram capazes de
entender se legado, pois, como vários outros intelectuais e pessoas altivas capazes de enxergarem através dos olhos comuns, transpassaram a humanidade e
escreveram para pessoas para além de seu tempo.
“Deus
está morto, e nós o matamos.”
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