(Atenção! O artigo a seguir pode
conter spoilers sobre o livro)
"Juntei cuidadosamente tudo quanto me foi possível recolher a respeito do pobre Werther, e aqui vos ofereço, certo de que mo agradecereis. Sei, também, que não podereis recusar vossa admiração e amizade ao seu espírito e caráter, vossas lágrimas ao seu destino.
E a ti, homem bom, que sentes as mesmas angústias do desventurado Werther, possas tu encontrar alguma consolação em seus sofrimentos! Que êste pequeno livro te seja um amigo, se a sorte ou a tua própria culpa não permitem que encontres outro mais à mão!" (Werther, Os Imortais da Literatura Universal, Editora Abril, página 11)
Escrito por Johan Wolfgang Von Goethe
em 1774, “Die leiden des jungen Werthers” foi o marco do Romantismo. Werther, o
principal personagem do livro, envia cartas ao narrador Willhelm Meister, nas quais descreve por um longo período sua vida e seu amor por uma jovem moça por quem
se apaixona e faz que com que coloque fim a seus dias com um tiro na face pela
vida angustiante que levava, em vista do amor sufocante que sentia pela jovem e
a impossibilidade de tê-la como sua companheira.
Após a primeira publicação do livro,
em 1774, ocorreu uma onda de suicídio denominada “Efeito de Werther” anos
depois. Ainda há divisões de opiniões a respeito da veracidade dessa onda suicida ter sido
causada pela imitação do personagem Werther, mas há pesquisas feitas por
psicólogos profissionais que confirmam que fora o livro o responsável pelo que
os especialistas caracterizaram como “como comportamento suicida imitativo”.
Esse efeito não foi exclusivo do obra de Goethe em 1774, houve caso parecido
após o suicídio de Kurt Cobain, da banda Nirvana, no qual vários outros jovens
que o tinha como seu ídolo também se suicidaram, o que deixa ainda mais claro o
problema causado pelo comportamento imitativo. Explicarei melhor sobre esse fenômeno
nas próximas linhas.
A pesquisa da qual me refiro, publicada por volta do
ano 2000, mostra evidencias sobre o comportamento suicida imitativo, os profissionais
responsáveis pela pesquisa publicaram-na para, além de servir como informação e
comprovação sobre como o comportamento imitativo ser um fator de risco para
possíveis suicídios, também, e especialmente para esse fim, para prevenir
outros suicídios principalmente por jovens, que muito facilmente tem ídolos,
sejam eles cantores, escritores, atores, etc. e acabam, muitas das vezes,
adquirindo alguns comportamentos dos mesmos, e também cortes de cabelo e roupas
características de cada ídolo. A chance de suicídio de um jovem que tem amigos
que já tentaram suicídio é maior do que quando comparada a jovens que não tem
amigos que já tentaram suicídio, diz a pesquisa, essa relação de amizade entre
jovens possivelmente suicidas aumentam a chance de ambos cometerem tal ato,
deixando claro que, além dos ídolos, as estreitas relações de amizade com
suicidas em potencial nos fazem adquirir, de certa forma, tal comportamento. É
claro que, jovens desinformados a esse respeito são mais propensos: a
maturidade mental é um fator preventivo quando se trata de imitação de
comportamentos.
O efeito de Werther não é
diferente do caso de suicídios de alguns jovens após o de Kurt Cobain. Ambos
causados pelo comportamento suicida imitativo, no qual passam, por vezes, decepções
amorosas (como Werther) ou impossibilidade de casamento por discriminação de classe social ou etnia,
muito presente AINDA em nossa sociedade, tanto brasileira como estrangeira (digamos
que os avanços sociais foram grandes de 1774 pra cá, mas ainda há muito que
melhorar), ou seja, viram em Werther e Cobain uma situação parecida com a que
passavam em suas vidas, e ainda uma possível saída “plausível” para esse sofrimento,
o suicídio. Aliás, um ser ausente de vida está, logicamente, ausente de
problemas, sem levar em consideração a religião e suas implicações quanto ao
destino de um suicida.
Werther suicidou-se por conta de
sua infelicidade e impossibilidade de ter uma vida normal pelo seu amor não
correspondido, se assim posso dizer. E o mesmo comportamento do personagem fora
adquirido por outras pessoas ao terem contato com a obra e a vida fictícia de
Werther, vendo nessa narrativa uma solução para a infelicidade, sofrimento e
falta de sentido para a existência que algumas vezes os problemas amorosos
trazem. Não é distante a realidade em que a pessoa põe fim a seus dias por uma
desilusão amorosa, basta uma procura rápida na internet para termos acesso a vários
casos recentes de suicídio após término de relacionamento. A mente
embaralha-se, já não é mais possível distinguir o real do imaginário, busca-se
por compreensão (creio que a palavra “atenção” não define intenção de alguém
antes de tirar a própria vida, mas sim compreensão). A impossibilidade de busca e alcance de outros
métodos para safar-se desse problema torna a vida um fardo pesado demais para
carregar, devido a tentativa de restabelecer a felicidade, ou a normalidade da
vida.
Mas nos convém declarar que a
vida não é feita somente de alegria, mesmo nos momentos mais difíceis em que nos
mostramos persistentes e fortes para com a situação problemática na qual
enfrentamos, e mesmo assim basta apenas um “escorregão” para nos precipitarmos
a uma tragédia, tomada por muitos como a única possibilidade de saída para um
problema pessoal, tendo em vista a impossibilidade de busca de outros meios
para a resolução de problemas (psicológicos, financeiros, amorosos, etc.)
resoluções tais essas como a visita a um psicólogo, ou mesmo o desabafo com
outra pessoa, que ajuda, e muito! Qual de nós nunca passou por tal fase? Somos
quase sempre necessitados de desabafo, verbalmente, ou não, como o faço agora:
escrevendo. A decepção pode ser vista nas pessoas muito facilmente hoje em dia,
e guarda-las dentro de nós pode ser fatal, o processo de recuperação mental
causada por uma tragédia, decepção amorosa ou financeira, pode ser mais lenta
quando tentamos fazê-la de forma independente, sem ajuda profissional.
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