16 de jan. de 2017

GOETHE, Os Sofrimentos do jovem Werther: O "Efeito de Werther"

(Atenção! O artigo a seguir pode conter spoilers sobre o livro)

"Juntei cuidadosamente tudo quanto me foi possível recolher a respeito do pobre Werther, e aqui vos ofereço, certo de que mo agradecereis. Sei, também, que não podereis recusar vossa admiração e amizade ao seu espírito e caráter, vossas lágrimas ao seu destino.
E a ti, homem bom, que sentes as mesmas angústias do desventurado Werther, possas tu encontrar alguma consolação em seus sofrimentos! Que êste pequeno livro te seja um amigo, se a sorte ou a tua própria culpa não permitem que encontres outro mais à mão!" (Werther, Os Imortais da Literatura Universal, Editora Abril, página 11)


Escrito por Johan Wolfgang Von Goethe em 1774, “Die leiden des jungen Werthers” foi o marco do Romantismo. Werther, o principal personagem do livro, envia cartas ao narrador Willhelm Meister, nas quais descreve por um longo período sua vida e seu amor por uma jovem moça por quem se apaixona e faz que com que coloque fim a seus dias com um tiro na face pela vida angustiante que levava, em vista do amor sufocante que sentia pela jovem e a impossibilidade de tê-la como sua companheira.




                                                          
Após a primeira publicação do livro, em 1774, ocorreu uma onda de suicídio denominada “Efeito de Werther” anos depois. Ainda há divisões de opiniões a respeito da veracidade dessa onda suicida ter sido causada pela imitação do personagem Werther, mas há pesquisas feitas por psicólogos profissionais que confirmam que fora o livro o responsável pelo que os especialistas caracterizaram como “como comportamento suicida imitativo”. Esse efeito não foi exclusivo do obra de Goethe em 1774, houve caso parecido após o suicídio de Kurt Cobain, da banda Nirvana, no qual vários outros jovens que o tinha como seu ídolo também se suicidaram, o que deixa ainda mais claro o problema causado pelo comportamento imitativo. Explicarei melhor sobre esse fenômeno nas próximas linhas.


A pesquisa da qual me refiro, publicada por volta do ano 2000, mostra evidencias sobre o comportamento suicida imitativo, os profissionais responsáveis pela pesquisa publicaram-na para, além de servir como informação e comprovação sobre como o comportamento imitativo ser um fator de risco para possíveis suicídios, também, e especialmente para esse fim, para prevenir outros suicídios principalmente por jovens, que muito facilmente tem ídolos, sejam eles cantores, escritores, atores, etc. e acabam, muitas das vezes, adquirindo alguns comportamentos dos mesmos, e também cortes de cabelo e roupas características de cada ídolo. A chance de suicídio de um jovem que tem amigos que já tentaram suicídio é maior do que quando comparada a jovens que não tem amigos que já tentaram suicídio, diz a pesquisa, essa relação de amizade entre jovens possivelmente suicidas aumentam a chance de ambos cometerem tal ato, deixando claro que, além dos ídolos, as estreitas relações de amizade com suicidas em potencial nos fazem adquirir, de certa forma, tal comportamento. É claro que, jovens desinformados a esse respeito são mais propensos: a maturidade mental é um fator preventivo quando se trata de imitação de comportamentos.

O efeito de Werther não é diferente do caso de suicídios de alguns jovens após o de Kurt Cobain. Ambos causados pelo comportamento suicida imitativo, no qual passam, por vezes, decepções amorosas (como Werther) ou impossibilidade de casamento  por discriminação de classe social ou etnia, muito presente AINDA em nossa sociedade, tanto brasileira como estrangeira (digamos que os avanços sociais foram grandes de 1774 pra cá, mas ainda há muito que melhorar), ou seja, viram em Werther e Cobain uma situação parecida com a que passavam em suas vidas, e ainda uma possível saída “plausível” para esse sofrimento, o suicídio. Aliás, um ser ausente de vida está, logicamente, ausente de problemas, sem levar em consideração a religião e suas implicações quanto ao destino de um suicida.

Werther suicidou-se por conta de sua infelicidade e impossibilidade de ter uma vida normal pelo seu amor não correspondido, se assim posso dizer. E o mesmo comportamento do personagem fora adquirido por outras pessoas ao terem contato com a obra e a vida fictícia de Werther, vendo nessa narrativa uma solução para a infelicidade, sofrimento e falta de sentido para a existência que algumas vezes os problemas amorosos trazem. Não é distante a realidade em que a pessoa põe fim a seus dias por uma desilusão amorosa, basta uma procura rápida na internet para termos acesso a vários casos recentes de suicídio após término de relacionamento. A mente embaralha-se, já não é mais possível distinguir o real do imaginário, busca-se por compreensão (creio que a palavra “atenção” não define intenção de alguém antes de tirar a própria vida, mas sim compreensão).  A impossibilidade de busca e alcance de outros métodos para safar-se desse problema torna a vida um fardo pesado demais para carregar, devido a tentativa de restabelecer a felicidade, ou a normalidade da vida.


Mas nos convém declarar que a vida não é feita somente de alegria, mesmo nos momentos mais difíceis em que nos mostramos persistentes e fortes para com a situação problemática na qual enfrentamos, e mesmo assim basta apenas um “escorregão” para nos precipitarmos a uma tragédia, tomada por muitos como a única possibilidade de saída para um problema pessoal, tendo em vista a impossibilidade de busca de outros meios para a resolução de problemas (psicológicos, financeiros, amorosos, etc.) resoluções tais essas como a visita a um psicólogo, ou mesmo o desabafo com outra pessoa, que ajuda, e muito! Qual de nós nunca passou por tal fase? Somos quase sempre necessitados de desabafo, verbalmente, ou não, como o faço agora: escrevendo. A decepção pode ser vista nas pessoas muito facilmente hoje em dia, e guarda-las dentro de nós pode ser fatal, o processo de recuperação mental causada por uma tragédia, decepção amorosa ou financeira, pode ser mais lenta quando tentamos fazê-la de forma independente, sem ajuda profissional. 



"Só Deus sabe quantas vezes mergulho no sono com a esperança de nunca mais despertar; e, pela manhã, quando arregalo os olhos e torno a ver o sol, sinto-me profundamente infeliz. Oh! se eu pudesse mudar de humor, entregar-me ao tempo, a isto ou aquilo, ao insucesso de uma iniciativa qualquer, ao menos o fardo dos meu aborrecimentos não pesaria tanto. Que desgraçado que sou! Sinto-me perfeitamente o único culpado...
Não, não sou culpado, mas é em mim que está a fonte de todos os meus males, como outrora a fonte de toda a minha felicidade." (Werther, Os Imortais da Literatura Universal, Editora Abril, página 110)


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