A lua estava cheia e havia
certa calmaria no ar, fazia um pouco de frio e estávamos deitados sobre o capô
do meu carro, um ao lado do outro, contemplando aquele lindo e longínquo céu
estrelado, tão longe que, embora impossível, pelo brilho refletido em seus
olhos tive a sensação de que poderia alcançá-lo, mesmo que estivesse a milhares
de quilômetros de distância. Ela virou-se de lado aconchegando seu rosto sobre
o meu pescoço nu e apertando-me contra seu corpo de tal modo que me dizia “você
é meu, todo meu” sem nem mesmo mexer os lábios, e em seguida, perguntou-me:
-Acha que seremos pra
sempre felizes, meu amor? Acha que nosso amor durará mais que a vida d’uma
estrela?
Olhei-a no fundo dos
olhos e senti imenso prazer em poder estar ao lado dela, ao que
respondi:
-Claro, meu amor. Você
é e sempre será a estrela de minha vida.
Sentia sua mão quente,
mesmo com a frieza da noite, tocar-me o rosto.
Abri os olho e percebi,
para minha infelicidade, que tudo não passara de um maldito sonho. Fui ao
banheiro lavar o rosto já molhado pelo suor, vesti meu casaco de inverno e fui
à cafeteria. Eram nove horas da manhã. Ao atravessar a rua e subir na calçada pude
ver, ao levantar a cabeça, que lá estava ela, com toda aquela beleza matutina
unicamente sua. A pele ligeiramente bronzeada, um perfume natural que há muito
me causa delírios e aqueles olhos, Ah! Aqueles olhos cor de âmbar capazes de
perfurar qualquer ser que se pusesse a amá-los tanto quanto eu os amo. Pousou-os
sobre mim inundando todo resquício de sanidade que ainda havia de existir com
sua delicadeza de olhar cortante, fazendo-me esquecer quase que
instantaneamente a percepção do tempo que, agora, corria tão lentamente quanto
a tartaruga de Aquiles. Parei frisado no meio-fio.
Mantenha a calma,
porra, pensei. A vida é mais do que isso. O que eu posso fazer senão deixa-la
montar no carro e ir embora? Pegá-la pelo braço, meter-lhe um beijo nos lábios
e fazer com que me odeie mais ainda não é uma alternativa, embora não saiba
qual seria sua reação. Com o amor não tem dessas, porra. Ou você corre o risco
de ser chamado de grosseiro por uma atitude inesperada, arrisca a pouca coragem
que ainda tem ou passa a vida toda esperando encontrá-la pelas livrarias, salas
de cinemas ou ao virar cada esquina da cidade.
O carro acelerou e ela
foi-se embora. Não havia mais nada que eu pudesse fazer. Porra, com o amor não
tem dessas.
Com o amor não tem
dessas...
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